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Dia Municipal em Memória dos Mártires dos Búzios

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Publicado em 08/11/2021, às 06h55   Marta Rodrigues



Neste 8 de novembro,  completa-se um ano da criação do Dia Municipal em Memória dos Mártires dos Búzios, fruto da Lei 9513/2020 de minha autoria. Esta conquista é, na verdade, de toda a  cidade e do Movimento Negro, que ciente da tentativa de apagamento da história ao longo dos anos, permaneceu na cobrança por representatividade do povo negro nos espaços públicos, em datas oficiais e de todas as maneiras possíveis.

A instituição deste Dia Municipal  vai ao encontro do que prevê a ONU e o Sistema Interamericano de Direitos: estabelecer a reparação de graves violações de direitos humanos, por meio da justiça de transição, promovendo direito à verdade e à memória como mecanismos de justiça.

A data marca o dia da morte, no ano de 1799, dos líderes da Revolta dos Búzios, a primeira revolução social do país, iniciada em Salvador em 12 de agosto do ano anterior, com foco na abolição da escravatura, na liberdade e na justiça social. Na ocasião, eles foram levados da cadeia, à época instalada nos porões do atual prédio do legislativo municipal, em direção à Praça da Piedade, onde foram esquartejados e tiveram seus membros dos seus corpos espalhados para amedrontar aqueles que pensassem dar continuidade ao levante.  

Infelizmente, muitos historiadores apontam as distorções na historiografia brasileira: são poucos os livros que retratam a luta abolicionista e por direitos no nosso país mostrando a participação da população negra. Sabemos que isso é consequência da narrativa colonialista e da elite brasileira. Por muito tempo tentaram silenciar vozes e esconder fatos sobre o poder de luta e de transformação social da negritude, numa nítida demonstração de racismo. 

Apesar disso, nós, parlamentares antirracistas de Salvador e da Bahia, ao lado do Movimento Negro, temos o compromisso de promover o direito à verdade e à memória como mecanismo de justiça, se valendo das instituições e parlamentos, com datas oficiais, monumentos, políticas públicas e cobrança de reparação na historiografia brasileira. Devemos nos inspirar no exemplo daqueles que, mesmo submetidos a escravidão e ao abandono após a falsa abolição, não abaixaram a cabeça e foram às ruas em várias revoltas e levantes. 

Este Dia Municipal que marca a morte de João de Deus, Manuel Faustino, Lucas Dantas e Luiz Gonzaga é fundamental para incentivar o legado de resistência que eles deixaram. Seus nomes já foram incluídos pela presidenta Dilma Rousseff no Livro Nacional de Heróis e Heroínas da Pátria em 2011. Continuaremos, porém, trabalhando para que eles estejam em todos os livros de história do País, ruas e locais públicos,  ao lado também das heroínas de Búzios: Luiza Francisca de Araújo, Lucrécia Maria, Domingas Maria do Nascimento e Anna Romana Lopes.

Viva ao Dia Municipal dos Mártires dos Búzios e sigamos para visibilizar a participação feminina em nossos levantes e lutas abolicionistas!

*Marta Rodrigues – Vereadora e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Salvador

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