Polícia

Polícia pacificadora ainda não disse para que veio

Publicado em 02/05/2011, às 17h22   Fabíola Lima


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Cinco dias após a inauguração da Base Comunitária de Segurança (BSC) no bairro do Calabar, a comunidade ainda procura o diferencial deste modelo de policiamento, que segundo o governador Jaques Wagner afirmou durante a inauguração da BCS, no último dia 27, seria uma ação pacificadora e de interação com a população dos bairros Calabar e Alto das Pombas.

Apesar de inaugurada oficialmente há apenas cinco dias, a Base Comunitária foi instalada há mais de um mês, logo depois que a polícia iniciou o processo de ocupação da área que, segundo moradores, era dominada por traficantes.

“Eu não vejo diferença, muito pelo contrário, o fato de os policiais estarem por aqui parece que lhes dá a sensação de propriedade do bairro. Eles chegam de forma ameaçadora, coagindo e intimidando as pessoas”. Desabafou o jovem Sheiva, 19. Segundo o rapaz, “mesmo em momentos de festa, os policiais interrompem de maneira grosseira. Na abordagem, parece que todos somos bandidos”, complementou.

Mostrando-se muito decepcionado, ele narrou um momento em que saia do colégio com alguns amigos e todos foram abordados por um grupo de policiais. Segundo Sheiva, por ser gay, um militar o olhou e cuspiu no chão. Chateado, o jovem foi até o comando da Base Comunitária. De aocrodo com ele, foi “bem atendido, mas nada aconteceu até o momento”. Segundo ele, ninguém nunca o procurou para dar resposta sobre o gesto de homofobia do policial.

Conforme o coordenador nacional da Articulação Brasileira de Gays, Franklin Silva, a abordagem policial deve ser feita igualmente a todas as pessoas independente da orientação sexual. Ele diz que o GG não tem restrição contra a ação da polícia, mas o preconceito declarado de alguns policiais é visto pelo grupo com indignação. “Nós já encaminhamos cartas à Corregedoria comunicando algumas ações de discriminação como esta denunciada”, diz Franklin.

Outro episódio sobre o policiamento “pacificador”  foi relatado pelos pais de um jovem de 25 anos que prefere não ser identificado. Segundo os pais do garoto, o fato aconteceu na praça central no Alto do Calabar, na última sexta-feira (29), quando o filho, usuário de remédio controlado, foi agredido pelos militares quando se encontrava em um bar da praça com a namorada e amigos.

“Eles chegaram pedindo que todos levantassem. Neste momento, meu filho levantou e abriu os braços. Só por isso, um policial deu uma tapa na cara dele”, indignou-se a mãe do rapaz. “Quando eu cheguei, eles me ofenderam dizendo que meu filho era marginal e a culpa era minha, que não sabia educar. O que eles pensam que são?”, indignou-se Maria.

“É essa a polícia que a segurança pública chama de pacificadora?”, questionou outro morador a reportagem do Bocão News. “Eles estão causando mais raiva".

Para Derval Silva, 44, da rádio Comunitária do Calabar, "não dá para entrar em uma comunidade, fazer morada e não se relacionar. A população do Alto das Pombas e Calabar quer polícia, mas que ela venha com paz. Sem esquecer o discurso da política pública que o governo chegou aqui fazendo, mostrando serviço, será que vai ficar apenas em palavras? Nada é iniciado de fato, os jovens continuam sem oportunidade de emprego, escola ou atividades culturais, estamos reféns do posso oferecer”.  

Para a capitã Maria Oliveira, no comando da Base Comunitária no Calabar, tudo segue como o planejado e os policiais estão dando conta da idéia inicial do projeto que, segundo ela, está sustentado na relação entre polícia e comunidade. É preciso saber se a capitã tem saído da Base para ouvir o que seus vizinhos dizem sobre os novos "moradores".

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