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Tio Paulo: Entenda o que se sabe sobre o caso de idoso morto em banco de Bangu

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Sobrinha que levou o idoso moro para o banco teve prisão preventiva decretada  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Redes Sociais

Publicado em 19/04/2024, às 08h25   Melissa Lima


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O caso do idoso Paulo Roberto Braga, de 68 anos, que foi levado sem vida pela suposta sobrinha Érika Nunes à um banco para tentar liberação de um empréstimo de R$ 17 mil, ainda está sendo investigado pela polícia. Entenda o que já se sabe e os argumentos usados pela Justiça para manter Érika presa:

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Causa da morte

Apontada como causa da morte do idoso, a broncoaspiração acontece quando o conteúdo do estômago (normalmente suco gástrico com ou sem restos alimentares) acaba sendo aspirado e invade as vias respiratórias.

Entre os sintomas estão tosse, engasgo, falta de ar e sufocamento. Segundo o laudo cadavérico, produzido pelo IML, a aparência de Paulo Roberto era a de um "homem caquético", ou seja, enfraquecido e debilitado.

Na última segunda-feira (15), dia anterior à morte, o idoso recebeu alta da UPA de Bangu, onde estava internado há uma semana por um quadro pneumonia. No prontuário, consta a informação de que ele chegou à unidade com dificuldade de andar e falar, e com pressão baixa.

No hospital, o idoso teve ajuda de aparelhos para respirar. Existe ainda o registro de que ele havia "apresentado engasgos, mantendo alimentos na cavidade oral". Além disso, ele estava "desorientado, pouco responsivo e com pouca interação com o examinador". O registro de engasgos é recorrente em todo prontuário desde o dia 8, quando o idoso chegou na unidade.

Enterro

Cerca de 20 horas depois da liberação do corpo do idoso, pelo Instituto Médico-Legal (IML) de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, a família de Paulo ainda não tem confirmação do dia e do horário do sepultamento social.

Na quarta-feira (17), o laudo de exame de necropsia, produzido pelo IML, concluiu que Paulo Roberto morreu entre 11h30 e 14h30 da última terça-feira. Às 15h, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) confirmou o óbito, ainda na agência bancária. O corpo foi liberado apenas na tarde de ontem.

A liberação foi feita por uma mulher que seria irmã da acusada. Ela apresentou uma Declaração de Hipossuficiência no IML para que o sepultamento de Paulo Roberto seja sem custos. O local do enterro, no entanto, não foi definido.

Empréstimos e compra de celular

A Polícia Civil pediu, nesta quinta-feira, a quebra do sigilo bancário de Paulo Roberto Braga. O delegado Fábio Luiz da Silva Souza da 34ª DP (Bangu) afirmou que, entre os dias 15 (quando o idoso teve alta da UPA) e 16 de abril, Érika o levou à três instituições financeiras em busca de crédito.

Além de agências do Itaú e do BMG, ambas em Bangu, os dois teriam ido à uma filial da Crefisa, cuja localização não foi revelada. Foram identificadas ainda algumas tentativas comprar celulares.

"A gente ainda vai buscar os funcionários da Crefisa. Vamos tentar identificar qual foi a loja. Realmente chegou para gente a informação de que ela tentou fazer um empréstimo na Crefisa e que essa pessoa viu ele (Paulo) num estado bem debilitado. Isso tudo no dia do fato. Ela teria tentando fazer uma compra de celulares, mas ainda não sabemos qual foi a loja", disse o delegado.

Prisão preventiva

Uma decisão da 2ª Vara Criminal da Regional de Bangu, tomada na tarde desta quinta-feira, converteu para preventiva a prisão de Érika de Souza Vieira Nunes, de 42 anos, responsável por levar o idoso à agência.

No momento do atendimento no caixa, as funcionárias da agência notaram que havia algo de errado com o idoso e chamaram o Samu, que constatou que ele estava morto.

"O ponto central dos fatos não se resume em buscar o momento exato da morte (de Paulo)" [...] "salta aos olhos e incrementa a gravidade da ação (...) que, em momento algum, a custodiada (Érika) se preocupa com o estado de saúde de quem afirmava ser cuidadora" demonstrando que seu "ânimo (...) se voltava exclusivamente a sacar o dinheiro", observa a juíza Rachel Assad da Cunha em sua decisão.

A defesa de Érika Nunes pediu que a prisão da acusava fosse convertida em domiciliar, mas o pedido foi negado. Um dos argumentos utilizados foi o fato de ela ter uma filha de 14 com necessidades especiais, que não possui diagnostico conclusivo.

Na decisão, a juíza afirma que Érika "se desobrigou dos cuidados com a filha para praticar a conduta criminosa, uma vez que deixou a adolescente aos cuidados do irmão mais velho", de 27 anos.

No texto, Rachel Assad ainda observa que o "laudo de necrópsia não estabelece a exata hora da morte, mas também não afasta a possibilidade de que o idoso já estivesse morto ao ingressar na agência" e que essa possibilidade "torna a ação mais repugnante e macabra".

A decisão reforça que "o idoso havia recebido alta de internação por pneumonia na véspera dos fatos, com descrição de “estado caquético” no laudo de necrópsia" e, por isso, a investigação precisa responder se "a própria conduta (de Érika) não teria contribuído ou acelerado o evento morte, por submeter o idoso a tanto esforço físico, em momento que evidentemente necessitava de repouso e cuidados".

Dia da morte

A conclusão do perito que assinou o laudo da necropsia é de que "não há elementos seguros para afirmar, do ponto de vista técnico e científico, se Paulo Roberto Braga faleceu no trajeto ou interior da agência bancária, ou que foi levado já cadáver à agência bancária".

O laudo também aponta que o idoso estava "previamente doente, com necessidades de cuidados especiais". À polícia, Érika se apresentou como cuidadora do idoso, além de apontar ser prima ou sobrinha de consideração dele.

Relembre o caso 

Érika de Souza Vieira Nunes chegou ao banco com Paulo Roberto Braga numa cadeira de rodas. Funcionários desconfiaram quando viram que o homem não reagia e acionaram o Samu, que constatou o óbito às 15h20.

"Os fatos não aconteceram como foram narrados. O Paulo chegou à agência bancária vivo. Existem testemunhas que no momento oportuno serão ouvidas. Ele começou a passar mal e depois teve todos esses trâmites. Tudo isso vai ser esclarecido. Acreditamos na inocência da senhora Érika", disse a advogada Ana Carla de Souza Correa, que defende a suspeita.

Em depoimento, Érika contou que era sobrinha do idoso. A tentativa de retirar o dinheiro foi gravada por funcionários do banco, que desconfiaram previamente da situação. No vídeo, Érika segura a cabeça de Paulo Roberto e diz: “Assina para não me dar mais dor de cabeça, ter que ir no cartório. Eu não aguento mais”.

Enquanto isso, os funcionários do banco salientam que algo de errado está acontecendo com o idoso. “Eu acho que ele não está legal, não está bem, não", diz uma atendente.

Classificação Indicativa: Livre

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