Educação

Novembro Negro: Racismo nas escolas traumatiza crianças e adolescentes

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A prática do racismo nas escolas é tão cruel que ela está enraizada em todas as idades, classes sociais e níveis distintos de escolaridade  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Pixabay
Lorena Abreu

por Lorena Abreu

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Publicado em 27/11/2022, às 05h50



O racismo nas escolas é muito mais corriqueiro e latente do que se pode imaginar. Ele é responsável por causar diversos traumas à crianças e adolescentes em todo o Brasil. A escola é o espelho do mundo real, portanto todos os enfrentamentos sociais são vivos em uma escola.

A prática do racismo é tão cruel que ela está enraizada em todas as idades, classes sociais e níveis distintos de escolaridade. Por isso, se faz tão necessário ampliar e oportunizar a discussão sobre antirracismo diária e constantemente.

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Cláudia Pessoa (coordenadora pedagógica e pesquisadora em educação e antirracismo)

Para a coordenadora pedagógica do e pesquisadora em educação e antirracismo, Cláudia
Pessoa, "a presença do racismo, infelizmente, é uma realidade há bastante tempo e, por essa razão é importante investir em formação de todos os profissionais, além de promover ações diárias antirracistas no ambiente escolar".

Desde criança o racismo deve ser pauta entre familiares e educadores. Os exemplos positivos devem partir dos adultos, principalmente. Referências de valorização da cultura africana, afro-brasileira e dos povos originários são algumas das formas de exercer o antirracismo. "Precisamos extrapolar a confecção de murais no Novembro Negro. Enfrentamento e processo de conscientização exigem ação, prática", enfatiza Cláudia.

É importante que se diga que a contribuição da cultura negra está em todos os cantos e em todo os campos. É necessária a presença da literatura negra nas listas escolares, assim como as contribuições científicas em todas as áreas precisam ser discutidas e em sala de aula. Ao profissional em formação caberá criar metodologias para ampliação desse repertório socio-cultural, constantemente. "Temos muito a caminhar, embora tenhamos percorrido um bom percurso. Adolescentes precisam de referência também, precisam de informação e refletirem sobre as políticas públicas voltadas para esse segmento. A mudança só vem através da educação", disse a professora.

No que diz respeito aos adolescentes, fase complexa do crescimento humano, é preciso ter um olhar

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Dandara Kosminsky (estudante)

atento para atitudes e discursos racistas, muitas vezes escamoteados, e que fere a subjetividade da pessoa. Dandara Kosminsky, estudante de 17 anos de idade, que concluiu recentemente o 2º ano do ensino médio, sabe muito bem o que é ser vítima do racismo, desde criança. "Quando eu tinha acho que uns 8 ou 9 anos, eu estudava em uma escola onde na minha turma só tinha eu e mais uma menina que eramos negras, mas eu era a única de cabelo crespo. Eu sempre usava um rabo de cavalo, meus colegas me pediram pra mostrar meu cabelo, na inocência eu soltei, mostrei e eles fizeram alguns comentarios dos quais não me recordo, mas eu me lembro claramente de que eu não consegui prender ele de novo, ele é muito cheio, e eles riram por causa disso e fizeram comentarios ruins sobre isso. Essa situaçao me marcou tanto ao ponto de hoje eu usar trança e não conseguir tirar", relatou ela.

Dandara conta ainda um outro episódio sofrido no ambiente escolar. "Teve outra situaçao com meu cabelo, que é meu maior traço de negritude. Já mais velha, no colégio em que eu estudo hoje, eu gostava bastante de sentar na frente, mas eu usava o mesmo penteado e ele era alto e com o cabelo grande e cheio. Dois colegas ficaram reclamando por dias que não conseguiam ver o quadro, nunca mais eu sentei na frente e toda fez que tiro a trança eu faço de novo no dia seguinte", afirma a estudante.

Situações como essas são lamentáveis e deixam cicatrizes na alma de negros que sofrem preconceito racial, diariamente. A própria professora Cláudia já passou diversas vezes por circunstâncias de racismo. "Sou descendente de negros e negras, uma mulher negra, casada com um homem negro, portanto, infelizmente vivencio cotidianamente atitudes racistas, mas trabalho na perspectiva da equidade e penso que o antirracismo é um desafio constante quer seja no discurso, quer seja nas atitudes “inocentes”, veladas e que com simples pedido de desculpas acredita-se que está tudo bem. Não, não está tudo bem e precisamos cuidar disso na escola e na sociedade. A escola é o melhor espaço para o diálogo e para a construção dessa sociedade equânime", ressalta ela.

E ela continua. "Já fomos barrados na saída de uma loja e em um show iríamos para a área vip. Quando chegamos no local nos indicaram a pista e disseram que estávamos no local errado. Como se naquele espaço não pudéssemos estar quer seja pela etnia quer seja pelo poder econômico", relembra Cláudia.

Histórias como essas precisasam ser extirpadas da sociedade. Na educação, a desigualdade racial é evidente e o combate a ela é indispensável para qualquer mudança. Sem uma educação efetivamente antirracista não é possível pensar em uma sociedade igualitária.

Classificação Indicativa: Livre

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