Polícia

PMs suspeitos de torturar colega de farda em curso de formação do Choque são presos

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Vítima denunciou diversas agressões por parte de soldados e superior do curso de formação  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Redes Sociais

Publicado em 29/04/2024, às 12h09   Cadastrado por Sanny Santana



Policiais militares suspeitos de torturar um colega de farda durante o curso de formação do Batalhão de Choque foram presos na manhã desta segunda-feira (29), no Distrito Federal.

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De acordo com o site Metrópoles, Danilo Martins, de 34 anos, denunciou ter sido agredido na última segunda (22), por um grupo de soldados da PMDF. O participante do curso afirmou que as agressões tiveram início após ele se recusar a desistir da formação.

Após a denúncia, foram expedidos 15 mandados de prisão. Até às 11h, 13 pessoas haviam sido detidas e outro se comprometeu a se apresentar com o advogado na Corregedoria da PMDF.

Ao site, o promotor de Justiça Flávio Milhomem, titular da 3ª Promotoria de Justiça Militar do Distrito Federal, afirmou que entrou com pedido de medidas cautelares e prisão dos militares que integravam o curso de Patamo na última sexta-feira (26/4), após a instauração do inquérito policial militar (IPM).

Ainda foram apreendidos celulares e solicitada a suspensão do curso enquanto durar a investigação, além do afastamento cautelar do comandante do Batalhão de Choque.

Os militares presos ficarão detidos no 19º Batalhão da PM, dentro do Complexo Penitenciário da Papuda.

A denúncia

Segundo depoimento prestado pela vítima na Corregedoria da PMDF e à Promotoria de Justiça Militar do DF, ele foi retirado pelo coordenador do curdo de Patamo no momento da apresentação dos uniformes e itens do curso.

De acordo com o PM, o superior teria dito que ele "não formaria no curso" e "não mediria esforços para fazer com que ele desistisse, nem que fosse na base da 'trairagem'".

"Ainda falou ao declarante que o desligaria do curso por deficiência técnica ou lesionado", completa o depoimento. Danilo diz que, ao se recusar a desistir, o tenente responsável pelo curso teria dito aos outros praças: "Estão vendo esse merda aqui? Ele não vai formar e quem ousar ajudá-lo também será desligado do curso".

Depois disso, tiveram início as torturas e agressões. O tenente mandou Danilo ir para uma espécie de caixote de concreto onde o depoente foi obrigado a ficar em pé por cerca de 1h30 e o proibiu de participar das atividades do dia.

"O tenente voltou ao local trazendo uma ficha de desistência, um capacete e um fuzil. O ordenou a empunhar o fuzil e ficar na posição de pronto-arma [fuzil cruzado no peito, sem encostar] durante aproximadamente 30-40 minutos sob a supervisão de dois soldados".

Ainda conforme o depoimento, os soldados e o tenente responsável pelo curso teriam xingado e jogado gás lacrimogênio nos olhos de Danilo.

"Ato contínuo o depoente foi molhado, enquanto segurava a tora de madeira sobre a cabeça com os braços esticados, sendo que o tenente disse que, quando o depoente secasse ele voltaria e queria as fichas assinadas".

"O tenente voltou ao local e o obrigou a assinar uma das fichas, qual seja, a ficha de responsabilização e que após assinar, o tenente o agrediu com um pedaço de madeira e ordenou que ele corresse em volta do BPChoque cantando os seguintes dizeres 'Eu sou um fanfarrão, eu gosto de atenção… eu sou o coach do fracasso, eu me faço de palhaço… eu envergonho a minha família, eu envergonho a minha unidade… eu sou carente e ninguém gosta de mim'. Enquanto corria e cantava, o tenente, a todo momento, o agredia com o pedaço de madeira na região da panturrilha e dos glúteos e proferia ofensas ao depoente", detalha o documento.

Danilo também afirmou que recebia chutes e era obrigado a ficar em posição de flexão enquanto levava pauladas na cabeça. Com as inúmeras agressões, o rapaz optou por desistir do curso.

"Após desistir, o tenente afirmou 'Danilo, era minha missão te desligar do curso. Muita gente me pediu para te desligar. Volta ano que vem que você não vai receber essa carga'", completa o documento.

Segundo familiares do soldado, as agressões duraram cerca de oito horas. Ele teria sido agredido nos joelhos, cabeça, costas, rosto, estômago e braços. "Quando a gente chegou no hospital, ele estava com um quadro de rabdomiólise grave, que é quando a fibra muscular rompe e ela solta uma toxina que intoxica o rim. Por conta do quadro de rabdomiólise, ele estava com insuficiência renal e precisou ser internado imediatamente na UTI", disse uma familiar de Danilo.

Os exames mostram que Danilo ficou com uma lesão cerebral que afeta visão e audição. "Ele não enxerga 100%. A imagem vai sumindo, ele está com fotofobia, está com lesão na medula da lombar e sente muita dor na lombar, fora todos os hematomas", completa.

Danilo já saiu da UTI, mas segue internando aguardando resultados de novos exames.

A PMDF

Por meio de nota, a PMDF disse que durante as atividades do curso de Patrulhamento Tático Móvel, no dia 22 de abril, um aluno solicitou desligamento após passar pela etapa inicial da formação e exercícios físicos previstos.

"Apesar de sair do batalhão alegando que estava bem, o referido aluno procurou atendimento hospitalar apresentando quadro compatível com rabdomiólise e alegando ter sido agredido".

A Corregedoria da PMDF já instaurou Inquérito Policial Militar para apurar o caso, que já está sendo acompanhado pelo Ministério Público. O coordenador do curso solicitou desligamento voluntário "para que as apurações transcorram da forma mais transparente possível".

Classificação Indicativa: Livre

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